Gazeta Musical

Sobre música, da música, para a música!

quinta-feira, abril 12, 2007

Sete Lágrimas Consort


É com grande alegria mas, ao mesmo tempo, redobrada responsabilidade, que nos propomos fazer uma recensão crítica do disco Lachrimae #1, dos nossos prezados amigos Filipe Faria e Sérgio Peixoto à frente do Sete Lágrimas Consort. Grande alegria porque, apesar da falta crónica de apoios, ensembles desta qualidade sobrevivem num misto de carolice e loucura, levando as suas ideias musicais avante, sendo a prova este CD. Redobrada responsabilidade porque será a primeira crítica a um CD neste blogue e, obviamente porque, para além dos laços profissionais que nos unem, temos um enorme respeito pela musicalidade que lhes corre nas veias. Mas, à semelhança do passado, a imparcialidade a que habituámos os nossos leitores será a pedra angular.
Fazemos nossas as belas palavras do genial Dowland:

(… ) though the title doth promise tears, unfit guests in these joyful times, yet no doubt pleasant are the teares which musick weeps, neither are tears shed always in sorrow, but sometimes in joy and gladness. Vouchsafe then your gracious protection to these showers of harmony (…) they be metamorphosed into true tears.*

* (...) embora o nome prometa lágrimas, convivas indesejados nestes tempos de alegria, são, sem dúvida, agradáveis as lágrimas que a música chora, nem sempre vertidas na tristeza mas também na alegria e no contentamento. Permita a vossa graciosa protecção a estes aguaceiros de harmonia (...) que sejam metamorfoseados em verdadeiras lágrimas.

terça-feira, abril 10, 2007

Um ano de vida

Perfazem hoje 365 dias sobre o primeiro post deste blogue. Foi o despertar de um projecto há muito acalentado mas, por diversas razões, protelado sine die. A arrogância dos verdes anos e, ao mesmo tempo, a esperança de um despertar de consciências conduziu-nos ao longo deste caminho, tíbio mas sincero.
Há muito que a crítica musical portuguesa mergulhou num marasmo sem fim à vista, medíocre, vulgar. Basta ler as recentes intervenções de Pedro Boléo, num jornal de aparente referência como o Público, para perceber, de imediato, que algo vai mal no panorama crítico português. Aliás, no geral, a comunicação social enferma de uma total ignorância no que toca a assuntos musicais, como o provam duas reportagens, uma da RTP e outra do Expresso, sobre a Orquestra Gulbenkian, num festival de lugares comuns, a roçar a boçalidade bacoca.
São raras, e honrosas, as excepções. Jorge Calado discorre, por norma, sobre o que de ópera se tenta fazer em Portugal, pecando, sempre, pelo apego, e constante comparação, às velhas glórias ocidentais do canto lírico. Franco Corelli só houve um e temos as sinceras dúvidas que outro surja nos próximos 100 anos! Augusto Manuel Seabra, dentro de um estilo muito próprio e assaz polémico, pontifica pela pertinência das ideias, em particular no domínio de uma “política cultural” séria e consciente das particularidades deste país, um verdadeiro Elias no deserto, bradando perante um silêncio catastrófico! Henrique Silveira, no seu blogue Crítico aposta numa crítica musical peculiar, muito caustica, destrutiva, mas informada e pertinente. Discordamos em diversos pontos, quer no estilo quer no conteúdo, mas verdade seja dita que Henrique Silveira roça a omnipresença critica sobre o que de Música se faz em Portugal.
Mas não podemos esquecer o verdadeiro drama deste país, o analfabetismo funcional que corrói os pilares de uma sociedade estática desde os seus primeiros passos. Basta ler Fernão Lopes, Damião de Góis, Francisco Rodrigues Lobo, António Vieira, Luís Verney, Eça de Queiroz, e tantos outros para, num ápice, ficarmos na dúvida se os seus escritos foram idealizados no passado ou se hoje mesmo, dada a pertinência das suas observações e actualidade. Ainda recentemente, Clara Ferreira Alves, na sua crónica semanal, chamava, dolorosamente, à atenção para as semelhanças gritantes entre o caso BragaParques e a passagem d’Os Maias, em que o protagonista se vê a braços com uma difamação num pasquim de grande tiragem.
Vivemos num Portugal deprimido desde 1580. Um país periférico que apenas em raros momentos da sua História soube o que queria e como queria. Um país sem verdadeira educação, com uma classe política apostada em cultivar a ignorância porque, em boa verdade, ela própria pouco é mais do que letrada. O “medinho”, o “respeitinho”, fazem parte do dia-a-dia português, onde raramente se apuram responsabilidades e as moralidades raiam a necedade! Um país que é embalado por entre Floribelas e Morangos com Açúcar, na efemeridade do estrelato, nos cinco segundos de fama que iludem gerações e no sempre recorrente milagre de Fátima, esquecendo-se que é no trabalho, na perseverança, e numa certa dose de corporativismo que algo se constrói! Um país que nunca teve uma politica cultural, artística, que nunca soube formar músicos e muito menos público! Um país em que o respeito pelos músicos é nulo, procurando fazer o máximo com o mínimo possível, onde todos devem a todos, onde os cachets não são pagos e as fraudes abundam. A ânsia de obra feita atropela ideias, as invejas destroem a infância de projectos válidos e uma cáfila inunda lugares de decisão, fazendo de cada acto, um gesto de magnanimidade sem objectivo concreto à vista! Um país que se prepara para destruir o ensino musical gratuito nos moldes em que hoje o conhecemos, em que a má formação da classe dirigente não lhe permite estabelecer políticas consistentes e continuadas olhando para o futuro e não tentando, continuamente, corrigir erros do passado, agravando-os ainda mais. Um país em que realidades aberrantes como a UI subsistiu com a conivência do poder político durante anos, em que os Politécnicos, as ESES e as Universidades públicas e privadas são verdadeiras arcas de Noé, com todo o tipo de animais à solta, em que um projecto cultural como o CCB se vê absorvido por uma negociata, ainda hoje mal explicada, entre o Governo e um milionário para aí ser depositada a sua magnífica colecção de arte, em que uma ministra e um secretário de estado da cultura mergulharam várias instituições num verdadeiro caos, num desnorte gritante e que, por isso mesmo, deveriam ter sido demitidos. Um país que não sabe, nem nunca soube, valorizar o que tem entre paredes, preferindo gastar a rodos com estrangeiros de integridade e eficácia duvidosa sem nunca criar hipóteses, ou alternativas para os nacionais, como foi o caso do Atelier de Ópera, único no país, com dinheiros do Estado, dirigido por um professor “convidado” a abandonar a Royal School of Music, em Londres. Um país que mergulhou no século XXI, na globalização, sem a mínima preparação, sem um ideal para o futuro, sem um projecto. Um país que se aniquila a si próprio, curando os seus males com sangrias prolongadas e deixando escapar por entre os dedos o que de melhor aqui se produziu.
Um país que corre o risco de o não ser.

domingo, abril 08, 2007

Aleluia



Dic nobis Maria,

Quid vidisti in via?

Sepulcrum Christi viventis,

et gloriam vidi resurgentis,

Angelicos testes,

sudarium et vestes.

Surrexit Christus spes mea:

praecedet suos in Galilaeam.