Gazeta Musical

Sobre música, da música, para a música!

sexta-feira, maio 23, 2008

Flauta quase Mágica

Nos passados meses de Fevereiro e Março, o Teatro Nacional de São Carlos apresentou a ópera Die Zauberflöte, de Wolfgang Amadeus Mozart, numa versão para crianças de Eike Ecker, espectáculo a ser reposto por estes dias.
Assistimos à récita do dia 29 de Fevereiro, numa sala completamente esgotada! Foi um final de dia muito especial, rodeados de crianças, pré-adolescentes, adolescentes, jovens, adultos (pais, acompanhantes, curiosos), numa dinâmica tão rica quanto marcante. Sentirmos que, ao nosso lado, estão sentados neófitos criados numa cultura que raia a abjecção, bombardeados com Morangos com Açúcar e demais pérolas da "coltura" moderna, é, por si só, uma responsabilidade redobrada para todos os que, como nós, conhecemos os meandros da Rua Serpa Pinto. E de que, dependendo da qualidade do espectáculo, da solidez do que se vê e ouve, é semeado um gosto pronto a crescer e a expandir-se.
A récita foi deveras cativante e, por isso mesmo, o TNSC está de parabéns!
Eike Ecker brindou-nos com uma versão light d'A Flauta Mágica retendo, contudo, o essencial da trama. A sua encenação foi singela, mas eficaz, o mesmo podendo dizer-se da cenografia e figurinos de Kerstin Faber. Uma palavra de apreço e admiração pela qualidade dos magníficos desenhos de crianças portuguesas, utilizados, com mestria, como pano de fundo deste espectáculo.
Cantada à boca de cena, e musicalmente falando, foi uma Flauta quase Mágica tendo, contudo alguns sobressaltos a registar.
O Tamino de Mário João Alves foi correcto mas pouco inspirado. A voz, cansada, não brilhou, o que é uma pena, dado a beleza que o seu timbre pode alcançar.
Sara Braga Simões foi muito feliz na sua abordagem ao papel de Pamina. Faltou-lhe alguma carga dramática, o registo heroico-pueril que fervilha na linha melódica mozartiana, mas, no seu todo, esteve à altura do papel.
Imperdoavelmente amputada da ária do I acto "O zittre nicht", Raquel Alão no papel de Rainha da Noite foi admirável. E, se no passado, apontámos como defeito a sua falta de tonus dramaticus, apresentou-nos uma mulher despeitada, sedenta de vingança, de olhar fatalmente penetrante. Musicalmente falando, o seu registo sobre-agudo impressionou pela nobreza do timbre, bem como a sua estonteante coloratura, arrecadando a primeira ovação da noite!
O Papagueno de Jorge Martins foi ambíguo. A sua voz falada encheu o teatro mas a cantada sumiu-se... O certo é que, cenicamente, brindou-nos com um Papagueno convincente arrancando as gargalhadas e aplausos merecidos a este personagem tão especial, meio homem, meio pássaro, despertando a sincera simpatia dos jovens espectadores.
Fernando Guimarães, como Monostatos, não esteve ao nível esperado. A voz é francamente pequena, não tendo sequer passado sobre a orquestra, para já não falar da sua aparente ineptibilidade cénica. Uma desilusão.
Como Papaguena, Ana Quintans foi sublime! A sua presença em palco irradiou comicidade, para já não falar da perfeição técnica com que abordou o papel.
Carla Simões e Susana Teixeira, e ainda Ana Quintans foram três graciosas Damas e três bem comportados Meninos. A sua primeira aparição foi graciosíssima. Um trio a reter pela vivacidade musical demonstrada
Sobre os cantores em palco, duas perguntas finais: Não existem em Portugal cantores aptos a desempenhar o papel de Sarastro? É preciso ir buscar um alemão, Dieter Schweikart?
Como é possível que tenham convidado Luís Rodrigues para um papel falado, Sacerdote?! Um ultraje, do nosso ponto de vista... para um cantor que tanto tem dado ao TNSC!
No que diz respeito ao desempenho da Orquestra Sinfónica Portuguesa, em versão reduzida, apenas podemos dizer que foi primária na emissão, grosseira no fraseado, rústica no seu todo. É inadmissível que o descalabro continue num agrupamento financiado pelo Estado, como se cada nota que tocam fosse um carimbo de uma qualquer repartição pública! Mas, diga-se em abono da verdade, a direcção de Cesário Costa em nada ajudou. Foi penoso ver uma géstica anti-musical durante todo o espectáculo, numa luta constante entre a orquestra e os cantores, não ajudando a uns e outros, sem respiração, sem elegância, sem temperamento. Bem comportadinho como um amanuense, de mangas de alpaca, à espera da hora de picar o ponto! Se é este o tão desejado maestro titular para uma OSP em queda livre, vem-nos à memória o velho ditado "pior a emenda que o soneto!".
Reconfortante foi a excitação patenteada por miúdos e graúdos à saída do espectáculo. "Quando à mais?" questionava uma pequena de caracóis, enquanto tirava o seu ipod do bolso... Ficamos TODOS à espera!

quinta-feira, maio 22, 2008

Procura-se...


Anda um homem a criar uma filha para isto...!

Temos andado alheados deste mundo... mas a vontade de um regresso desponta... Aqui fica uma pérola do canto mundial, como gargalhada perante os provincianismos da vida!