Quem tem razão? ossia O delirante lusitano e o mafioso italiano
Confesso que, para grande angústia minha, ainda não percebi bem o que se passa por entre os corredores da Serpa Pinto e do Palácio da Ajuda. Como este governo nos tem vindo a habituar, e em parte, por nossa culpa, as decisões são literalmente cozinhadas num secretíssimo lume brando. E digo nossa culpa porque nós, portugueses, temos o condão de protestar por tudo e por nada, lançar areia aos olhos, calhaus no caminho, num boicote generalizado… muitas vezes sem grande razão! Mas nos últimos tempos, o “des”governo têm-se excedido… é a fusão do TNSC com a CNB, a já murmurada fusão da Universidade Clássica e da Universidade Nova de Lisboa e, se não temos atenção, ainda fundem Belém com São Bento…
Mas vem este brevíssimo prólogo a propósito de uma entrevista de Emanuel Nunes ao diário Público (edição de 19/01/07). Resumidamente, o compositor acusa Paolo Pinamonti de não ter estreado a sua ópera, Das Mädchen, a partir da obra de Goethe, em Novembro de 2006, como tinha sido acordado, devido “à maneira de trabalhar do ainda director da Ópera de Lisboa (…) Mais concretamente, à sua falta de deontologia. Por razões de ordem política e contratual, de cantores, encenador, etc., sem o meu conhecimento, o director da Ópera de Lisboa decidiu que a ópera não estaria terminada”. Ora, esta acusação seria, enfim, legítima, não fora a teia de Penélope que Emanuel Nunes tece de seguida… são incongruências a mais, pelo menos para o meu gosto!
Diz a entrevista:
“(…) em Março de 2006, i.e., sete meses antes da data prevista para a estreia, o mesmo director não tinha um único contrato de cantores, nem tinha encenador, e dizia, como podia, que o compositor não poderia acabar a obra. O compositor soube disto através de (…) um agente de espectáculos de Londres, a quem um cantor que devia cantar a minha ópera perguntou se era verdade que a ópera de Emmanuel Nunes não podia ser terminada. Eu soube, portanto, por um método aplicado”
Bom, à parte o “método aplicado”, seja lá isso o que for, coloca-se, de imediato, uma questão: afinal Pinamonti tinha ou não contratado cantores? Emanuel Nunes diz que foi o agente de um cantor “que devia cantar” que o confrontou com a situação… em que ficamos?!
Mas continua…
“Sem entrar em detalhe, tenho só duas coisas a dizer - primeiro: a maneira como fui tratado pelo director da Ópera de Lisboa chega para que eu exija condições mínimas de deontologia; segundo: como eu não pertenço nem apoio nenhum partido político, sinto-me muito mais à vontade para dizer o seguinte: a única pessoa oficial que considerou o problema da minha ópera, e que apoiou como pôde a questão de que ela deverá ser feita, foi o Mário Vieira de Carvalho, secretário de Estado. E digo isto porque, da minha parte, não é, de modo nenhum, um aspecto partidário; é simplesmente uma constatação. Foi ele que permitiu que a ópera não fosse definitivamente abandonada. Portanto, permito-me considerar esse ponto como importante. À parte isso, como é óbvio, manteve-se o apoio incondicional, a mim, da Fundação Gulbenkian e do Remix Ensemble/Casa da Música. A ópera é uma encomenda tripartida do Teatro Nacional de São Carlos, Gulbenkian e Remix/Casa da Música, em que o Remix tem uma parte importante na realização da ópera, como ensemble.
E a ópera já estava concluída na altura?
A ópera não estava concluída [então Pinamonte até tinha razão…]. À parte o material dos cantores, estava tudo pronto e acordado com o maestro Peter Rundel, com o Remix e com a Gulbenkian, com as pessoas que tocam directamente, portanto. Não havia material de cantores, porque o senhor director se recusa a fazer audições. [Porque é que fica a sensação que Emanuel Nunes se prepara para escrever meia dúzia de notas por cantor sobre um tecido instrumental já escrito? Pensando bem, uma nota para a China, outra para a Etiópia no meio de tantos “plims e plams” pouca diferença faz…]
Prefere fazer convites?
Faz. E como quem escreveu a ópera fui eu, e quem a dirige é o Peter Rundel, e ambos precisamos de audições... Seis meses antes da estreia, não havia um único contrato de cantores. [Já imaginaram o que era fazer a programação de um Teatro de Ópera com base em audições? Abrir o caderno de empregos de um diário qualquer e ver em letras garrafais “Precisa-se de um Otello”, “Estão abertas audições para o papel de Turandot. Dá-se preferência a sopranos asiáticos”?!! Algum cantor de renome mete-se num avião e vem a Lisboa fazer audições para uma ópera de Emanuel Nunes?! Wake up…]
Acordou-se uma nova data, depois da intervenção do secretário de Estado.
Das intervenções
E já foram feitas as audições?
Não!
Mas estão previstas?
Penso que sim, na medida em que penso que o São Carlos mudará de política brevemente. As datas são 25, 27 e 29 de Janeiro de 2008.”
E termina a entrevista com este dardo venenosíssimo… para quem é apolítico mas, pelos vistos, muito próximo do actual Secretário de Estado da Cultura (se bem que em Portugal Cultura é algo de muito vago…) Emanuel Nunes sabe, ou quer fazer crer que sabe, de mudanças, iminentes, na política do São Carlos.
Bom, meninos, já sabem… Amanhã, todos à Serpa Pinto para tentar arranjar um papelzinho na ópera desse grande génio da música portuguesa... até nisto somos pequeninos!
P.S. Aqui transcrevo parte da declaração de Paolo Pinamonti sobre este assunto:
“Eu, Paolo Pinamonti, na qualidade de Director do Teatro Nacional de São Carlos, encomendei a Emmanuel Nunes uma ópera em Fevereiro de 2002. A encomenda foi aceite pelo compositor.
Posteriormente, contactei a Fundação Calouste Gulbenkian e a Casa da Música para parceiros da encomenda e para co-produtores. É com satisfação que registo que este projecto, por minha iniciativa e do São Carlos, se realiza com o apoio de duas importantes instituições musicais portuguesas e do IRCAM de Paris.
Na qualidade de Director do Teatro Nacional de São Carlos tenho a responsabilidade de programar a actividade do Teatro e de avaliar as condições técnicas e artísticas de realização de cada projecto. Sempre foi assim e assim será de futuro, de resto, no âmbito do exercício normal das minhas competências. Entre Janeiro de 2003 e Setembro de 2004, a estreia da ópera foi adiada três vezes sucessivas a pedido do próprio compositor. Depois de ter sido concordada a nova data de 22 de Novembro de 2006, enviei ao compositor uma proposta de contrato, a 1 de Fevereiro de 2006, na qual, naturalmente, se encontravam definidas as datas para entrega dos materiais musicais. O compositor não assinou o contrato – até à data este permanece por assinar – e, mais uma vez, foi adiada a data de estreia. Depois de tantos adiamentos, foi meu entendimento que a estreia da ópera de Emmanuel Nunes teria de reunir todas as condições para se estrear no nosso Teatro, no final de Janeiro de 2008. (…)”
Mas vem este brevíssimo prólogo a propósito de uma entrevista de Emanuel Nunes ao diário Público (edição de 19/01/07). Resumidamente, o compositor acusa Paolo Pinamonti de não ter estreado a sua ópera, Das Mädchen, a partir da obra de Goethe, em Novembro de 2006, como tinha sido acordado, devido “à maneira de trabalhar do ainda director da Ópera de Lisboa (…) Mais concretamente, à sua falta de deontologia. Por razões de ordem política e contratual, de cantores, encenador, etc., sem o meu conhecimento, o director da Ópera de Lisboa decidiu que a ópera não estaria terminada”. Ora, esta acusação seria, enfim, legítima, não fora a teia de Penélope que Emanuel Nunes tece de seguida… são incongruências a mais, pelo menos para o meu gosto!
Diz a entrevista:
“(…) em Março de 2006, i.e., sete meses antes da data prevista para a estreia, o mesmo director não tinha um único contrato de cantores, nem tinha encenador, e dizia, como podia, que o compositor não poderia acabar a obra. O compositor soube disto através de (…) um agente de espectáculos de Londres, a quem um cantor que devia cantar a minha ópera perguntou se era verdade que a ópera de Emmanuel Nunes não podia ser terminada. Eu soube, portanto, por um método aplicado”
Bom, à parte o “método aplicado”, seja lá isso o que for, coloca-se, de imediato, uma questão: afinal Pinamonti tinha ou não contratado cantores? Emanuel Nunes diz que foi o agente de um cantor “que devia cantar” que o confrontou com a situação… em que ficamos?!
Mas continua…
“Sem entrar em detalhe, tenho só duas coisas a dizer - primeiro: a maneira como fui tratado pelo director da Ópera de Lisboa chega para que eu exija condições mínimas de deontologia; segundo: como eu não pertenço nem apoio nenhum partido político, sinto-me muito mais à vontade para dizer o seguinte: a única pessoa oficial que considerou o problema da minha ópera, e que apoiou como pôde a questão de que ela deverá ser feita, foi o Mário Vieira de Carvalho, secretário de Estado. E digo isto porque, da minha parte, não é, de modo nenhum, um aspecto partidário; é simplesmente uma constatação. Foi ele que permitiu que a ópera não fosse definitivamente abandonada. Portanto, permito-me considerar esse ponto como importante. À parte isso, como é óbvio, manteve-se o apoio incondicional, a mim, da Fundação Gulbenkian e do Remix Ensemble/Casa da Música. A ópera é uma encomenda tripartida do Teatro Nacional de São Carlos, Gulbenkian e Remix/Casa da Música, em que o Remix tem uma parte importante na realização da ópera, como ensemble.
E a ópera já estava concluída na altura?
A ópera não estava concluída [então Pinamonte até tinha razão…]. À parte o material dos cantores, estava tudo pronto e acordado com o maestro Peter Rundel, com o Remix e com a Gulbenkian, com as pessoas que tocam directamente, portanto. Não havia material de cantores, porque o senhor director se recusa a fazer audições. [Porque é que fica a sensação que Emanuel Nunes se prepara para escrever meia dúzia de notas por cantor sobre um tecido instrumental já escrito? Pensando bem, uma nota para a China, outra para a Etiópia no meio de tantos “plims e plams” pouca diferença faz…]
Prefere fazer convites?
Faz. E como quem escreveu a ópera fui eu, e quem a dirige é o Peter Rundel, e ambos precisamos de audições... Seis meses antes da estreia, não havia um único contrato de cantores. [Já imaginaram o que era fazer a programação de um Teatro de Ópera com base em audições? Abrir o caderno de empregos de um diário qualquer e ver em letras garrafais “Precisa-se de um Otello”, “Estão abertas audições para o papel de Turandot. Dá-se preferência a sopranos asiáticos”?!! Algum cantor de renome mete-se num avião e vem a Lisboa fazer audições para uma ópera de Emanuel Nunes?! Wake up…]
Acordou-se uma nova data, depois da intervenção do secretário de Estado.
Das intervenções
E já foram feitas as audições?
Não!
Mas estão previstas?
Penso que sim, na medida em que penso que o São Carlos mudará de política brevemente. As datas são 25, 27 e 29 de Janeiro de 2008.”
E termina a entrevista com este dardo venenosíssimo… para quem é apolítico mas, pelos vistos, muito próximo do actual Secretário de Estado da Cultura (se bem que em Portugal Cultura é algo de muito vago…) Emanuel Nunes sabe, ou quer fazer crer que sabe, de mudanças, iminentes, na política do São Carlos.
Bom, meninos, já sabem… Amanhã, todos à Serpa Pinto para tentar arranjar um papelzinho na ópera desse grande génio da música portuguesa... até nisto somos pequeninos!
P.S. Aqui transcrevo parte da declaração de Paolo Pinamonti sobre este assunto:
“Eu, Paolo Pinamonti, na qualidade de Director do Teatro Nacional de São Carlos, encomendei a Emmanuel Nunes uma ópera em Fevereiro de 2002. A encomenda foi aceite pelo compositor.
Posteriormente, contactei a Fundação Calouste Gulbenkian e a Casa da Música para parceiros da encomenda e para co-produtores. É com satisfação que registo que este projecto, por minha iniciativa e do São Carlos, se realiza com o apoio de duas importantes instituições musicais portuguesas e do IRCAM de Paris.
Na qualidade de Director do Teatro Nacional de São Carlos tenho a responsabilidade de programar a actividade do Teatro e de avaliar as condições técnicas e artísticas de realização de cada projecto. Sempre foi assim e assim será de futuro, de resto, no âmbito do exercício normal das minhas competências. Entre Janeiro de 2003 e Setembro de 2004, a estreia da ópera foi adiada três vezes sucessivas a pedido do próprio compositor. Depois de ter sido concordada a nova data de 22 de Novembro de 2006, enviei ao compositor uma proposta de contrato, a 1 de Fevereiro de 2006, na qual, naturalmente, se encontravam definidas as datas para entrega dos materiais musicais. O compositor não assinou o contrato – até à data este permanece por assinar – e, mais uma vez, foi adiada a data de estreia. Depois de tantos adiamentos, foi meu entendimento que a estreia da ópera de Emmanuel Nunes teria de reunir todas as condições para se estrear no nosso Teatro, no final de Janeiro de 2008. (…)”
2 Comments:
Então? Não se escreve nada de novo? O poeta ficou mudo?
O poeta é um fingidor...
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