Festa da Música
Desenganem-se aqueles que estavam à espera de uma crítica aos concertos da Festa da Música 2006… deixamos tal tarefa aos habituais críticos da nossa praça, que nos últimos dias têm andado num alvoroço pueril a criticar tudo o que viram e, do alto da sua sapiência, a classificar as interpretações… como se a música e o que dela fazem os músicos se resumisse a uma escala parola de 0 a 20. Ou ainda, tique por demais recorrente, irem a concertos cujo resultado final, sabem eles à partida, não os vai satisfazer…
Este ano não comprámos bilhetes, não nos detivemos em jogos de cintura para conjugar o concerto a, b, c, y e z, qual Obelix em sindroma de privação, ávidos de música, a raiar a histeria saloia. Que fique claro desde já que apoiamos a Festa da Música, ou pelo menos entendemos e, até certo ponto, somos entusiastas deste modelo. Mas o que era novidade nos primeiros anos tornou-se, rapidamente, numa moda, com os mesmos tiques irritantemente burgueses que encontramos no dia-a-dia por Lisboa, isto sim, a evitar.
Além do mais, e temos isto como um princípio cá de casa, quando não há dinheiro não há festa! Não se pode comprar champagne, paciência, não se vai comprar espumante! Não se pode comprar filetes frescos, não se vai remediar com peixe congelado… Mas não, como o português médio é um bronco musical, um analfabruto, faz-se uma sandwich de filet mignon com mortadela, que ele não vai dar por nada. Mistura-se o mau com o muito bom e espera-se que ninguém dê por nada. É como nos leilões, as peças menos interessantes são misturadas com as de grande valor para, enfim, sempre terem uma licitação mais conveniente. Em suma, se não havia dinheiro para fazer uma Festa da Música monumental, como anteriormente aconteceu, pois bem, faziam uma garden-party com os agrupamentos de excepção habitues…
Ou então, faziam com a prata da casa. Mas aí corriam o risco de não terem público. Sim, que o português padece do mal crónico de só apreciar, por norma, o que se faz lá por fora. Seja bom ou mau, não importa, é estrangeiro, por isso vende! É triste pensar que, ao longo do ano, não há apoios sólidos aos diversos agrupamentos portugueses que lutam, num esforço hercúleo, por sobreviver e impor-se no mercado como referências de qualidade, e depois, por falta de dinheiro de uma organização, são convidados para tapar buracos, sendo literalmente entalados entre concertos de ensembles de referência mundial! Como imaginam, dá asneira, e da grossa!
Teria sido melhor recusarem o convite? Respondemos a esta questão com outra… como é que um coro ad hoc, constituído por uma amálgama de cantores pode competir com um coro que ensaia diariamente? Como é que este coro ad hoc pode prestar um bom serviço à música se não tem meios para trabalhar nas condições ideais, um trabalho aturado, diário, procurando fundir as vozes, apurar o timbre dos naipes, regular emissões vocais díspares? Como é que um coro pode ter uma boa prestação se mistura pessoas que de canto sabem zero com outras que fazem do canto a sua profissão? E os amadores que por lá passaram?
A Festa da Música não é uma competição. Pois claro que não, quem disse isso? Mas até um bronco tem ouvidos, e se há coisa que nos irrita é ver portugueses fazerem figuras tristes, expostos ao escárnio, que redundam na observação óbvia “eu não disse?!” ou então “ora essa, eu vou é ouvir intérpretes de excelência!”. Se houvesse apoio sustentado, quer privado quer institucional, redes de espectáculos a funcionar seriamente, e não apenas no papel, crítica construtiva [e poderia estar aqui mais 100 parágrafos a discorrer sobre o assunto], os portugueses teriam mostrado o quanto valem, e acreditem que valem bem mais do que o que esteve à mostra!
Porque que raio houve dinheiro para fazer oratórias de Händel, batidas ad nauseam por esse mundo fora, com coros de trinta e tal pessoas, orquestras e duplas orquestras e depois não houve dinheiro para fazer o Te Deum de Francisco António de Almeida com esse aparato? Fica-lhe atrás em génio musical? Venham eles, e vamos discutir isso de músico para músico, não de melómano para melómano! Onde esteve a música de António Teixeira, José de Nebra, Lully, Alessandro Scarlatti, Jan Dismas Zelenka e muitos outros? Harmonia das Nações é como quem diz que, pelos vistos, umas continuam a valer [ou será vender] mais que outras.
Que nos crucifiquem com o que vamos dizer, mas certos senhores fariam um melhor serviço à sociedade portuguesa se, em vez de gastarem dinheiro na Festa [ou será Feira] da Música, o investissem num apoio sustentado aos músicos portugueses. Os frutos de tal investimento estariam à vista em menos de cinco anos. Como diria o poeta “põe-se o dinheiro onde faz vista, não onde faz falta”. É o Portugal dos pequeninos!
Este ano não comprámos bilhetes, não nos detivemos em jogos de cintura para conjugar o concerto a, b, c, y e z, qual Obelix em sindroma de privação, ávidos de música, a raiar a histeria saloia. Que fique claro desde já que apoiamos a Festa da Música, ou pelo menos entendemos e, até certo ponto, somos entusiastas deste modelo. Mas o que era novidade nos primeiros anos tornou-se, rapidamente, numa moda, com os mesmos tiques irritantemente burgueses que encontramos no dia-a-dia por Lisboa, isto sim, a evitar.
Além do mais, e temos isto como um princípio cá de casa, quando não há dinheiro não há festa! Não se pode comprar champagne, paciência, não se vai comprar espumante! Não se pode comprar filetes frescos, não se vai remediar com peixe congelado… Mas não, como o português médio é um bronco musical, um analfabruto, faz-se uma sandwich de filet mignon com mortadela, que ele não vai dar por nada. Mistura-se o mau com o muito bom e espera-se que ninguém dê por nada. É como nos leilões, as peças menos interessantes são misturadas com as de grande valor para, enfim, sempre terem uma licitação mais conveniente. Em suma, se não havia dinheiro para fazer uma Festa da Música monumental, como anteriormente aconteceu, pois bem, faziam uma garden-party com os agrupamentos de excepção habitues…
Ou então, faziam com a prata da casa. Mas aí corriam o risco de não terem público. Sim, que o português padece do mal crónico de só apreciar, por norma, o que se faz lá por fora. Seja bom ou mau, não importa, é estrangeiro, por isso vende! É triste pensar que, ao longo do ano, não há apoios sólidos aos diversos agrupamentos portugueses que lutam, num esforço hercúleo, por sobreviver e impor-se no mercado como referências de qualidade, e depois, por falta de dinheiro de uma organização, são convidados para tapar buracos, sendo literalmente entalados entre concertos de ensembles de referência mundial! Como imaginam, dá asneira, e da grossa!
Teria sido melhor recusarem o convite? Respondemos a esta questão com outra… como é que um coro ad hoc, constituído por uma amálgama de cantores pode competir com um coro que ensaia diariamente? Como é que este coro ad hoc pode prestar um bom serviço à música se não tem meios para trabalhar nas condições ideais, um trabalho aturado, diário, procurando fundir as vozes, apurar o timbre dos naipes, regular emissões vocais díspares? Como é que um coro pode ter uma boa prestação se mistura pessoas que de canto sabem zero com outras que fazem do canto a sua profissão? E os amadores que por lá passaram?
A Festa da Música não é uma competição. Pois claro que não, quem disse isso? Mas até um bronco tem ouvidos, e se há coisa que nos irrita é ver portugueses fazerem figuras tristes, expostos ao escárnio, que redundam na observação óbvia “eu não disse?!” ou então “ora essa, eu vou é ouvir intérpretes de excelência!”. Se houvesse apoio sustentado, quer privado quer institucional, redes de espectáculos a funcionar seriamente, e não apenas no papel, crítica construtiva [e poderia estar aqui mais 100 parágrafos a discorrer sobre o assunto], os portugueses teriam mostrado o quanto valem, e acreditem que valem bem mais do que o que esteve à mostra!
Porque que raio houve dinheiro para fazer oratórias de Händel, batidas ad nauseam por esse mundo fora, com coros de trinta e tal pessoas, orquestras e duplas orquestras e depois não houve dinheiro para fazer o Te Deum de Francisco António de Almeida com esse aparato? Fica-lhe atrás em génio musical? Venham eles, e vamos discutir isso de músico para músico, não de melómano para melómano! Onde esteve a música de António Teixeira, José de Nebra, Lully, Alessandro Scarlatti, Jan Dismas Zelenka e muitos outros? Harmonia das Nações é como quem diz que, pelos vistos, umas continuam a valer [ou será vender] mais que outras.
Que nos crucifiquem com o que vamos dizer, mas certos senhores fariam um melhor serviço à sociedade portuguesa se, em vez de gastarem dinheiro na Festa [ou será Feira] da Música, o investissem num apoio sustentado aos músicos portugueses. Os frutos de tal investimento estariam à vista em menos de cinco anos. Como diria o poeta “põe-se o dinheiro onde faz vista, não onde faz falta”. É o Portugal dos pequeninos!
1 Comments:
Oh... O Grande Portugal dos Pequeninos...
Este ano não estive presente na Festa, parafraseando, Feira da Música. Senti de longe o cheiro a pólvora dos últimos cartuchos, a morte anunciada de um evento que, por mais feira que fosse, me possibilitava um mergulho profundo no oceano musical em toda a sua diversidade e profusão qualitativa. Este ano não fui porque me irrita que a falta de dinheiro seja incentivo para convidarem os músicos portugueses, porque não posso ter respeito nenhum por um país e por um governo que pretende vender o edifício que alberga a Escola de Música do Conservatório Nacional aos Amorins para a construção de um hotel de luxo, pondo a nú todo o desprezo que tem e sempre teve (basta passear pelo edifício para ver o grau de deterioração a que o Ministério da Educação o votou ao longo dos anos) pelo ensino vocacional da música e pela formação dos músicos portugueses. Este é o apoio sustentado institucional à educação musical vocacional. Não me espanta que os portugueses tenham dificuldades em mostrar o que valem. E que a sua participação nesta Festa aumente em função do défice financeiro da mesma é ainda mais triste. Somos a mão-de-obra barata do nosso próprio país.
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